quinta-feira, fevereiro 08, 2007

A Dor da Catarse e do Vazio


Após 11 dias de luto (e muita luta) volto a ter motivos para escrever. Sim, até para escrevermos tem que haver motivo. Meus leitores são ao mesmo tempo meus convidados e merecem meu respeito literário.


Catarse é a purificação da alma através da descarga emocional provocada por um drama. Este é um conceito teorizado por Aristóteles.


Eu gostaria de dizer que mais do que o sentimento de perda, dói mais o 'nascer do siso'. Siso é aquele dente lá de trás que só nasce após alguns bons anos de vida. Dizem que há pessoas que não o possuem, portanto não passam por esse sofrimento. (não sou dentista)


Viver um turbilhão de sensações ao mesmo tempo é fichinha perto de qualquer ácido na veia que se tome. Com o agravante de que as situações são reais e tem consequencias. Num delírio lisérgico, tudo que era 'loucura', simplesmente passa diante do fim do efeito da droga.


O olhar se perde. Busca-se força em tudo, mas sentimos a potência (?) de descobri-la apenas dentro de nós. Aliás, Lennon havia profetizado isso quando disse que somente se achou dentro de sí.


Mas pra que serve a catarse e por que se faz tão necessária?


Talvez seja para a reflexão...mas aqueles que já refletem sobre tudo o tempo todo devessem ser poupados desse desconforto.


Desconforto....acho que encontrei a palavra. Qualquer lugar se torna estranho.


Começamos a notar todos os ruídos e cheiros ao nosso redor. Afinal, tudo antes era pequeno.

Começamos a desenvolver manias que antes jamais pensamos ter.


Pessoas ao redor. As pessoas começam a ter valores os mais exdrúxulos. Gente a sua volta pode incomodar muito, mesmo quando querem te dar conforto.

E nenhuma....absolutamente nenhuma delas está em verdadeira comunhão com você. Elas não estão preocupadas com você. Elas tem apenas 'pena' de você. O pior dos sentimentos.

Portanto, impossível se sentir bem no meio de 'gente'.


O que muda dentro de você é 'apenas' a forma como você vê o mundo. Em meu caso particular, ainda não encontrei motivos para ver nada mudado para melhor. Até agora só notei que o lado ruim pode se tornar terrivelmente cruel e sádico. Mas ... isso para um Herege é apenas mel na colher.


Não que eu quisesse passar por isso. Mas um batismo de sangue.


Não sei com que frieza e fortaleza sairei da atual situação, mas entendo que jamais serei a mesma pessoa.


Mais uma vez me sinto como uma mísera partícula de um universo ainda em formação, mas com um maldito (?) sentimento por dentro e alguns lampejos de raciocínio. Sim, eu e você temos apenas lampejos de raciocinio. Ainda não conhecí alguem que realmente raciocina e que consiga trazer isso para a propria vida. Nós, comuns, apenas questionamos.


Talvez eu vire um bom samaritano visitador de asilos, leprosários, comece a ir tocar violão debaixo do viaduto para alegrar a vida de alguns moradores de rua (esses 'esquecidos pelo sistema'). Talvez eu decore todos os salmos de Davi como se aquilo não fosse merecedor de escárnio. Talvez eu largue a Medicina Chinesa e passe a me dedicar a pintura barroca....talvez.


Talvez eu me torne (ainda mais) azedo e seco do que já sou. Não, isso não é impossível. Talvez essa seja a tendência mais forte.


Talvez eu ainda encontre um ponto de equilibrio que me faltava (?) entre esses opostos.


Notaram o excesso de interrogações em minha retórica? É a isso que a catarse leva...ao questionamento.


Eu estou parindo alguma coisa. Eu só ainda não sei o que é. Mas é algo que veio pra ficar.

E sinto que é pra me preparar para algo ainda mais forte que enfrentarei. Eu só ainda também não sei o que.


Com isso tudo, tenho aprendido algumas pequenas coisinhas:


- Mãe é uma coisa tão importante pra gente, que deveria haver uma sempre de reserva.

- É possível sim sentir-se sozinho com um bando de gente em volta de você.

- O poço não tem fundo. Portanto, jamais ache que está no fundo dele. Sempe pode piorar um pouco.

- Deus também não existe. Pelo menos não 'aquele'.

- Jesus não pode fazer nada por você. Nem ele nem a sua bisavó que ja morreu. Mas ele não tem culpa disso. Ele tem tanta culpa de ser uma lenda quanto o Pato Donald.

- Buda também nada pode fazer. Mas esse também nada prometeu, portanto...

- Quando está tudo bem, tudo parece conspirar a seu favor.

- Quando começa a ficar tudo mal, pode começar a esperar o mesmo mecanismo citado acima. E se gosta de conselhos, não se oponha ... deixe o vento levar. Pois nessa hora além de você nao ter forças, toda e qualquer sensação de derrota só vai atrapalhar, portanto sequer lute pois você vai mesmo sair perdendo. Apenas deixe o vento bater.

- Provavelmente o mundo nunca vai acabar. Quem acaba somos nós.

- Não espere muito dos amigos nesses momentos. Não que eles sejam negligentes....mas incrivelmente eles estarão ocupados com coisas tão relevantes que você vai se sentir constrangido em incomodá-los. Ocupe seus amigos em momentos de comemoração e de chopp....mas não encha o saco deles com seus lamentos.

- Espere menos ainda da família. Lembre-se que foi nela que você teve os maiores problemas da sua vida e não vai ser agora que essa 'corrente' vai ser quebrada. Contudo, ainda é pra onde corremos e, bem ou mal, somos assistidos. E se a familia te trouxer mais uns metros abaixo do poço, encare isso apenas como mais um detalhe da catarse.

- Aprendí também que que a dor da perda da mãe realmente não se compara com a perda de um filho(a). Principalmente quando essa mãe era uma criança dependente de você pra tudo e quando você a vê partindo, não se poder fazer absolutamente nada.

- Eu só ainda não aprendí a não alugar os amigos falando da morte da mãe num blog pela segunda vez consecutiva.


Obs: O post anterior não foi o último porque um dia minha mãe leu meu blog e disse: "Meu filho, assim você vai acabar pondo caraminhola na cabeça dessa gente ou vão te chamar de maluco...". E eu respondí: Tomara, mãe, tomara...
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