quinta-feira, maio 22, 2008

Sindrome do Pânico ou o "Transtorno da Opressão"

"E o que pro pobre é frescura, pro rico é trauma de infância..." (Oswaldo Montenegro)




Pois é. No meu tempo isso tinha o nome de opressão. E quero deixar claro que o meu tempo é daqui a uns 70 anos...
Vários leitores me pediram pra abordar esse tema tão presente na vida das pessoas e confesso que relutei bastante antes de me sentar para formar minha singela opinião.
Claro que além da opinião de um curioso, tenho por profissão uma opinião uma pouco mais rica em observações a respeito do problema.
Quando eu digo rica em observações, digo porque a literatura que se tem em torno do assunto é tão empírica (ah,vai no Aurélio, vai...) quanto o que passarei aqui.
Não se tem ainda uma visão definitiva a respeito. (talvez esse seja o lado bom - coisas muito definitivas costumam encalhar e mofar, e consequentemente passar a não funcionar mais)
Recentemente nm bate-papo com um colega que é psicoterapeuta, regado a uma caipirinha de maracujá, o mesmo me passou sua impressão sobre o pânico (doravante abreviaremos o termo, ok?).
- Herege...é como se baixasse um SANTO na pessoa. Parece que você não é você. Que o lugar onde você está lhe é até familiar, porém hostil e ainda assim sem nada de ruim estar acontecendo em seu redor.
A semelhança com um "pesadelo acordado" é muito grande. Você tenta acordar e não consegue.
Não existe hora nem lugar para acontecer. Você pode estar no meio de uma discussão, ou passeando com seu filho de mão dada na beira de uma lagoa com uma brisa suave lhe banhando a face.
O temor pelo desconhecido aumenta e sensações físicas começam a surgir: taquicardia (pelamordedeus, eu disse taquicardia e não ATAQUE CARDÍACO), suor frio nas mãos e pescoço, uma aparente falta de ar muitas vezes justificada pelo aumento do batimento cardíaco e, finalmente, o que diferencia o pânico de outras sensações semelhantes: a sensação de morte iminente.
Parece que você REALMENTE vai bater a caçuleta.
Alguns pacientes chegam a relatar a interessante sensação de "algo se apagando".
A duração não costuma ultrapassar 20 minutos (no máximo) e até hoje não se tem notícia de que alguém tivesse morrido durante a crise.
Depois que passa, continua a sensação de que o SANTO subiu e se foi...você não consegue justificar o que aconteceu porque está acima da racionalidade.
Clinicamente esses pacientes são tratados com medicamentos consideravelmente fortes e que nem todos tem a tolerância desejável. São medicamentos conhecidos como "tarja preta" e que costumeiramente causam dependência. Além de não tratar a causa do problema em sí.
Porém, admito serem necessários em muitos momentos de crise. Mas não como forma de terapia efetiva. É enxugar gelo.
- Porra Herege, tu vai ficar dando aula de pânico aqui na porra do blog e nada de dizer a sua opinião...qual é a tua???
Calma, Arrombado...vamos chegar lá.
Eu gostaria de saber quantos psicoterapeutas ou psiquiatras já trataram um índio com pânico...
Ok, então quantos já trataram uma criança com no máximo 8 anos com pânico (não confundir com malcriação ou medo de tomar porrada na escola de um coleguinha mais abusado, ok...).
Legal....alguém já viu um hippie se encaminhar a um consultório queixando-se de pânico?
Caro leitor, é preciso que algo fique bem claro.
A síndrome do pânico é (queiram admitir ou não - fodam-se) um transtorno causado pela opressão permitida.
Quando digo permitida, digo que ninguém passa por aquilo que não quer passar.
Todos nascemos livres. Livres, pelados, sem dente e carecas. Dizem que o que vier então é lucro.
Porém na prática a coisa não é bem assim que funciona. Sabem por que?
Porque somos educados a nos 'educar' (e nos adequar) à repressão.
Algumas linhas cima citei três categorias de pessoas: índios, crianças e hippies.
Foram as que lembrei mais rapidamente. E que seguem seus próprios padrões sem se lixar com o que VOCÊ vai pensar ou sobre o que vai acontecer depois.
Fazem aquilo que querem....aquilo que estão "a fim" de fazer e ponto final.
- Porra, Herege.....mas e a tal de deficiência de serotonina no cérebro que a ciência já descobriu que é uma das causas do pânico?
Sim, caro Arrombado...mas quem nasceu primeiro....o ovo ou a galinha?
Claro que nosso corpo é regido por substãncias e neuro-transmissores, e a serotonina é uma dessas substãncias que associaram ao pânico.
Mas é lúcido nos perguntar o que está fazendo os níveis dessa serotonina baixarem.
Somos seres materiais recheados de emotividade. E essa emotividade muitas vezes é reprimida a níveis insuportáveis.
E devemos entender emotividade por algo bem amplo.
Na minha adolescência, eu tinha um amigo cerca de 20 anos mais velho que eu, que costumava andar de mão dada com um amigo (dele) no meio da rua em plena luz do dia.
Eu, em minha idiotice juvenil olhava e pensava: - mas que viadão...
E, lógico, 99,99 % dos que viam a cena constante tinham a mesma opinião.
Fato: nenhum dos dois era viado ou tinham um caso um com o outro. Mas se gostavam ao ponto de sentirem prazer em andar pelo comércio local de mãos dadas quando tinham essa oportunidade.
- Porra Herege, mas e daí?
E daí, Arrombado, é que eles estavam fazendo o que estavam com vontade de fazer.
Cagaram para a sociedade e fizeram algo que lhes era permitido constitucionalmente, mas que porém causava um pequeno 'escândalo' por onde passavam.
Hoje pouco sei dos dois, mas não me recordo de terem sofrido de pânico...
Uma outra coisa é a opressão da palavra.
Quem de nós já não deixou de dar uma opinião por se achar um perfeito imbecil perante os demais ou por que simplesmente nos foi imposto o silêncio?
Sim, sapos não costumam descer bem. E quando aprisionados dentro de nós podem ter consequências terríveis.
Talvez os "sapos" sejam grandes consumidores da tal serotonina.
Sim, existe o tripé da opressão: Aquilo que você faz, aquilo que você fala, e aquilo que você pensa.
Uma ocasião tive a oportunidade de ler uma matéria do gênio Millor Fernandes onde o mesmo nos brindava com uma frase que retratava a sensação popular na época da ditadura militar no Brasil:
" Evite pensar algo subversivo contra o sistema.
Se pensar procure não falar. Se falar evite escrever.
Se escrever, apague imediatamente.
Se alguém ler, escreva correndo outro desmentindo o primeiro...e se você fizer algo contra o sistema e te apanharem, negue a autoria ou se passe por demente."
Somos oprimidos pelo sistema desde que o mundo é mundo.
Sim, há um controle 'invisível' no mundo. E não é de deus que estou falando.
As pessoas agem como macacos de rabo cortados e que aprederam a falar. Falar o que querem que falem, é claro. Nunca o ditado macaco vê, macaco faz foi tão real.
O homem oprime a mulher a se enquadrar covardemente dentro dos padrões estabelecidos há milhares de anos como se a mulher fosse um ser inferior (não que elas não sejam - hehehe).
O sexo por sua vez é reprimido para ser feito do jeito que alguns gostam que seja feito. E, pior, quem determina as regras desse mesmo sexo não costuma praticá-lo.
Sim, as regras da sexualidade são feitas por celibatários!!!
A igreja se encarregou de ditar como e com quem as pessoas devem trepar.
E eles não trepam.
Não é esquisito?
Fico imaginando a cena...
"Ah, vai bota aí o seguinte...diga ao povo que eles só podem fazer sexo com o sexo oposto....que podem até sentir prazer, mas que não devem buscar o sexo pra isso.....prazer só como consequência e olhe lá hein!
Ahhh.....bota aí também o seguinte.....que eles vão ter que passar uma vida inteira satisfeitos com a mesma 'linguiça' e o mesmo 'buraco'.....melhor não deixar esse povo com muita opção não....pode virar bagunça. Daqui a pouco vão querer usar camisinha....
Ahhhhhhhh!!!!!! bota aí também....camisinha nem pensar!
Aids???? Quem mandou não nos obedecer e soltar o pinto ou a perereca por aí....agora fodam-se!
E tá bom demais....esse negócio de sexo é meio sujo, Jesus não comeu ninguém e subiu aos céus e o certo mesmo era nem bater punheta....
Punheta???!!!???? meia punheta e Satanás já o aguarda com o tridente na mão.....bota aí também..."

E está armado (armado?) o tripé do pânico.
Opressão da palavra, da atitude e da sexualidade.
E, claro, chega um momento em que a natureza bérra dentro de nós.
Nosso organismo faz o que um disjuntor elétrico faria em caso de sobrecarga: ele simplesmente desarma.....e desarma pra não queimar.
A sobrecarga daquilo que "precisa" fluir, corre como veneno nas veias humanas.
Nossos órgãos começam a entrar "em parafuso", os sistemas energéticos internos já não se entendem, as comunicações entre as partes mais íntimas de nosso cérebro começam a se tornar hostis e ocorre o que se chama de "apagão".
O corpo pára em defesa de sí mesmo. E só retorna à sua normalidade assim que os sistemas internos voltam a se comunicar de forma coesa.
Ah, claro...um Rivotril no momento da crise é um santo rémédio! Mas é bom lembrar que ele não lava a louça da cozinha suja.
Ele apenas te faz esquecer por alguns momentos que a louça lá está pra ser lavada. E tão logo o efeito passe, lá estará à sua frente a mesma cozinha suja.
Então antes que nosso amigo Arrombado me interrompa novamente, eu quero deixar registrado aqui nesse blog que a cura do Transtorno da Opressão (prefiro assim chamar o pânico) é simples e que basta ter coragem e audácia.
Não, não vou dizer pra você tocar o foda-se na sua vida.
Na verdade você tem até duas opções.
A primeira (não recomendo) é se alienar, acatar o sistema, continuar vendo bastante a Rede Globo - sem perder uma novela - entrar para uma igreja qualquer, se tornar kardecista (afinal, tudo é um processo carmico, como diria o Clodovil...) e parar de se queixar de tudo.
A segunda (mais saudável) é começar a sair do automatismo.
Fazer aquilo que gosta. Mesmo que alguém faça cara feia.
Falar aquilo que pensa. Mesmo que te chamem de maluco.
Trepe com ou sem camisinha e com quem você quiser.
E lembrar, claro, que o preço de viver sem a opressão é a constante vigilância daqueles que não são como você porque simplesmente não tiveram coragem de botar o focinho pra fora da janela do mundo.
A sindrome do pânico e sua solução é tão novidade quanto o mito da caverna de Platão. (sim, isso aí colorido é um link pra você clicar e descobrir o que é o mito da caverna)
E assim como aqueles que ousaram sair da caverna, quem ousar se libertar da opressão pagará o preço da condenação pelo sistema.
Mas, jamais...jamais se sentirá atado pelo espírito e emparedado vivo.
Ame ... viva .... liberte-se....
O amor é a lei. Mas amor sob vontade. Sob a tua vontade.
Faz o que tu queres. É tudo da lei.
Ou então viva oprimido e não encha o saco do seu terapeuta.
Atenção: O que você acabou de ler é uma pequena sinopse da palestra que O Herege fará na Faculdade São Bento (Mosteiro de São Bento - R.J) sobre a Síndrome do Pânico no dia 28/5/2008 às 9:00 da manhã (se me deixarem terminar a palestra, claro...).
A entrada é franca e todos estão convidados.
Se eu fosse um de vocês não perderia a chance de presenciar a maior heresia desde que Galileu disse que a terra girava em torno do sol.... O Herege palestrando dentro do mais ortodoxo e conservador templo católico do Brasil.
Quem viver verá.
Até lá!


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