terça-feira, abril 21, 2009

Paradoxo




“Se o sentido mais próximo e imediato de nossa vida não é o sofrimento, nossa existência é o maior contra-senso do mundo. Pois constitui um absurdo supor que a dor infinita, originária da necessidade essencial à vida, de que o mundo está pleno, é sem sentido e puramente acidental. Nossa receptividade para a dor é quase infinita (...). Embora toda infelicidade individual apareça como exceção, a infelicidade em geral constitui a regra” (Arthur Schopenhauer – Contribuições à doutrina do sofrimento do mundo - § 148).


Depois da afirmação acima vocês podem estar imaginando que este mosqueteiro que vos fala está sofrendo de uma baita dor-de-cotovelo, daquelas de deixar qualquer um arrasado, mas não é bem assim.

Pode até ser que Schopenhauer, ao dissertar sobre o assunto, estivesse com uma dor de corno daquelas. Ou talvez só estivesse doidão de ópio. Ou, ainda, só quisesse chocar o mundo com suas teorias. O certo é que ele não estava tão louco assim.

Ok, ok. Vamos aos argumentos que possam comprovar tal teoria.

Quem nunca sentiu o peito queimar, o corpo arrepiar, a cabeça pesada, tudo originado por um sofrimento prévio, e mesmo identificando e reconhecendo isso não quis reagir, que atire a primeira pedra. Sim, meus queridos, há quem realmente goste de sofrer, e isso não é raro.

Na verdade, dor e prazer são sentimentos tão próximos, separados por uma linha tão tênue, que muitas vezes acabam por se confundir. Pode parecer um paradoxo, mas muitas das sensações de prazer que sentimos são originárias de um sofrimento prévio. Arriscaria-me a dizer que, para alguns, o prazer é a conseqüência da dor.

Senão, vejamos.

O que levaria tanta gente a práticas sexuais tais como o sadomasoquismo? Não me ocorre outra coisa senão o fato de que, mesmo na dor (e por mais intensa que seja) há uma certa aprazia.

-Cacete, mosqueteiro, então a maioria das pessoas, na verdade, gosta de sofrer?

Não, meus queridos, não foi o que eu disse. Só disse que, para algumas pessoas, a dor causa um sentimento de satisfação diferente, que acaba se confundindo com o prazer.
Vejamos outro exemplo.

O orgasmo, uma das maiores sensações de prazer que o indivíduo pode experimentar, origina-se de impulsos que, em outras circunstâncias, o organismo entenderia como dor. E é exatamente assim que o orgasmo pode ser classificado. Como microimpulsos de dor, adaptados por nós mesmos (de forma física e psicológica) como sensação de prazer. E eu nem vou entrar no mérito dos que gostam de apanhar (e bater) na hora de “descabelar o palhaço”.

De fato, vários filósofos, psiquiatras, médicos e especialistas das mais diferentes áreas já estudaram e discorreram sobre o fenômeno aqui retratado. Um dos que mais me chamou a atenção foi Jeremy Bentham. Ele dizia ser o “homem um ser que busca o prazer, fugindo da dor”. Talvez. Mas e aqueles que, inadvertidamente, procuram a dor? Seriam “anormais”? Duvido muito.

Analisando friamente, há que se concluir que o homem é um ser que busca transformar a dor em prazer.

Diante de tudo isso, o que se pode concluir é que cultivar (e até mesmo buscar) certos “sofrimentos” não é de todo mal, desde que se tente retirar prazer de tudo o que, em outro contexto, possa fazer mal. Isto é, a dor na dose certa pode até fazer bem.

Agora, se você é daqueles que goza até com martelada no dedo, então é melhor buscar ajuda psiquiátrica urgente, porque seu problema é sério.

Fraternais Abraços.
Porthus.
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