quarta-feira, março 25, 2009

In Memorian



Nada me parece mais sacana do que uma homenagem post morten. E antes que digam que esta matéria é contraditória, lhes advirto que não se trata de mais uma melancólica lembrança de alguém que não mais está entre nós. Na verdade, eu diria que é mais uma postagem de desabafo e indignação.

Vejamos o ocorrido na última semana.

A morte do estilista, jornalista e então Deputado Federal Clodovil Hernandes desencadeou mais uma mostra de como a sociedade pode ser hipócrita ao tentar prestar os últimos (que por vezes se estendem por muitos anos) respeitos aos que não estão mais “entre nós”.

Clô (para os íntimos) foi uma das personalidades mais perseguidas depois da ditadura militar. A mídia, principalmente, tratava de expor sua vida e carreira de forma tão vil e tacanha que, em dado momento, ele se viu impedido de aparecer em qualquer emissora de canal aberto do país para fazer aquilo que mais gostava.

Dono de uma personalidade forte, Clodovil incomodava por dizer exatamente o que pensava de quem quer que fosse. É verdade que o seu “filtro” (aquele dispositivo instalado entre o cérebro e a boca e que nos impede de dizer tudo o que pensamos e/ou queremos) carecia de um certo ajuste, mas sua inteligência sempre foi incontestável.

- Mas porra, Mosqueteiro...Se ele era tudo isso, então era merecedor das homenagens...Por que tanta indignação?

É muito simples, caro gafanhoto. A morte do estilista foi noticiada, alardeada e saudada justamente por muitos daqueles que o perseguiram e o hostilizaram ao longo dos anos. Se isso não é hipocrisia, então não sei que nome tem.

Mas esse nem é o principal ponto a ser levantado. Na verdade, toda a minha indignação ultrapassa a pessoa de Clodovil Hernandes (por quem sempre tive muito respeito e admiração). O que me aborrece é que tais homenagens só são suscitadas depois que o indivíduo morre. É ou não é uma puta sacanagem?

Me parece muito mais justo que, se alguém é digno de respeito e admiração (e conseqüentemente de honras e homenagens), estas deveriam ser realizadas enquanto o homenageado pudesse delas desfrutar.

- Cacete, espadachim, mas isso é óbvio!!!

Sim, cara-pálida. É óbvio, mas raramente acontece.

Consigo me lembrar de poucas pessoas, merecedoras de todas as honras, que são lembrados em vida. Chico Buarque é o nome mais forte que me vem à memória. Inclusive, foi homenageado por uma Escola de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, o que rendeu à esta agremiação o título naquele ano.

E por falar em Escola de Samba, Mestre Jamelão (que também nos deixou não tem muito tempo) proibiu a esta mesma agremiação de homenageá-lo de qualquer forma, principalmente de virar enredo de carnaval. Sábia decisão de um dos baluastres do carnaval no Brasil.

Agora, pior do que homenagear tardiamente os que merecem, é render intermináveis homenagens a quem as merece de maneira, no mínimo, duvidosa. Não quero aqui levantar mais polêmicas, mas continuar homenageando o grupo musical Mamonas Assassinas treze anos após sua morte já está ficando ridículo (quem assistiu ao último Fantástico sabe do que estou falando).

Por fim, fico com as palavras do sábio Noel Rosa: “Quando eu morrer, não quero choro nem vela...”.

Fraternais Abraços.
Porthus.
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