domingo, janeiro 28, 2007

Morte - O Grande Mistério da Vida





A minha mãe morreu.

O mais difícil para muitos talvez não seja aceitar isso como um fato, mas talvez vir a publico como faço nesse momento e dizer: a minha mãe morreu.

Fica ainda mais difícil e menos confortável quando se é conhecido como um ateu.

Ficamos sujeito àquelas piadinhas (sempre nos bastidores, claro) do tipo: - agora ele vai sentir a falta de deus....ou entao ....- agora ele se converte.....ou ainda- olha a cara dele e note o quanto uma religião faz falta numa hora dessas...

Bobagem.

Vemos crentes (no sentido de crer em algo) se debulhar em lágrimas e fazer escandalos frente a um caixão de um ente querido, e vemos ateus encarando um sepultamento como que uma despedida costumeira.

Mas não é sobre isso que eu quero falar. Eu só falei isso para botar 'fel' nas línguas daqueles que visitam meu blog e que agora possam estar pensando alguma bobagem desse nível.

Saibam que o guerreiro está ferido, mas não morto.


A morte é uma coisa mística. Não há nada mais mística e inspiradora que a morte. A morte da mãe da gente então nem se fale. Claro, pra quem tem um apego por mãe como eu sempre tive com a minha.

Eu vou narrar fatos e quem estiver com preguiça, convém acessar o site do Paparazzo pra se distrair.


Minha mãe morreu às 5:15 da manhã do último sábado sem dar um gemido ou sem se sacolejar buscando por ar. Encostou o corpo já fragilizado por 4 pontes de safena, 76 anos e uma severa diabete entre eu e meu irmão e parou de respirar. Os olhos ainda abertos....o peito já não palpitava. Eu fazendo respiração boca-a-boca enquanto meu irmão pegava o celular pra ligar sabe-se-lá-pra-quem pra pedir oração. Talvez minha mãe já estivesse morta e eu não soubesse, mas ele sim. Eu lá tentava algo inútil. O celular caiu da mão dele e ele então também voltou-se ao boca-a-boca junto comigo. Revezamos nisso por uns 3 a 5 minutos. Até que ele me disse: Chega.
O que estamos ouvindo de 'retorno' é apenas o barulho do ar saindo. Não há mais o que fazer.

Levantei da cama, pûs a mão na cabeça e vi alí um corpo. Em alguns segundos 36 anos de vida junto à minha mãe me passaram pela cabeça. Mas ví alí apenas algo que não mais respondia pelo chamado de "mãe".

Difícil narrar o que se passa nesse momento, mas tentarei.

A sensação é de impotência total. A sensação é de guerra perdida. Derrota.

Fui pra sala. Não lembro de ter chorado nesse momento. Acho que nao chorei. Não lembro.

Mas lembro de uma coisa. Não clamei por nada. Não me opûs às leis da natureza às quais sou fiel.

A sensação do dever cumprido como filho sempre presente me confortava naquele momento. Porém o conhecimento de saber que nunca mais ouviria aquela voz já fraca me perguntando o que eu queria comer de noite me abalava. E ainda me abala.


O mistério da morte é o não saber.

Sabemos toda a estruturação do nascimento. Acompanhamos desde os primeiros dias de gestação toda a formação de um feto até o primeiro choro quando um bebê nasce......mas nada, absolutamente nada sabemos da morte.

Será justo?

Será que eu ou você que me lê nesse momento merece não saber pra onde a minha ou a sua mãe está indo depois de parar de respirar? Será esse o preço a pagar por toda uma vida de comunhão com um ser humano?

Eu não quero nem tocar em 'deus' para não ser grosseiro nesse momento, fato que seria inevitável.

E acho também que se pouco sabemos a respeito da morte é porque a culpa é NOSSA.

Sim, a culpa é minha e sua.

Há 6 anos eu não sabia como ligar um computador na tomada de luz e hoje tenho um blog. Eu precisei descobrir como funcionava e fiquei fuçando até descobrir.

Algum cientista começou a questionar o misterio do nascimento e hoje sabemos (quase) tudo sobre como nasce um ser humano.

O problema toda da morte foi colocar religião no meio.

A religião (e os religiosos) descobriram nessa grande desconhecida, uma grande fonte de assustar e de ganhar dinheiro do povo ignorante. E assim, até hoje, por osmose, sabemos muito pouco da morte.

Com certeza já eramos pra estarmos muito acostumados com tudo isso, visto que a morte não é menos natural que comer uma pêra, ler um jornal, fazer cocô (ou tudo isso ao mesmo tempo, por que não) ou assistir um filme.

Fomos roubados desse conhecimento. Alguém de muito pouco caráter e de muita inteligencia pensou: pra que que eu vou desvendar o que existe do lado de lá, se eu e meus descendentes podemos ganhar muito dinheiro com isso tudo eternamente?


Ficamos tão abalados com a morte que nos passam coisas exdrúxulas pela cabeça. Exemplo: ainda faltavam algumas horas para o sepultamento de minha mãe quando pensei: ah, ta calor. vou tomar uma gelada, não quero nem saber.

Procurei uma cerveja no bar do cemitério. Não tinha. So tinha na rua.

Fui então pra rua procurar uma Skol gelada. Pelo caminho vi alguns lagartos se remexendo num arbusto enquanto eu passava. Pensei comigo: seriam aqueles lagartos mais importantes que a minha mãe? afinal eles continuavam a 'vidinha' pacata deles e A MINHA MÃE tinha morrido.

Pensamento escroto né? pois é...mas isso é culpa do não conhecer. Isso é fruto da MINHA COMPLETA IGNORÂNCIA sobre a morte.


Ainda hoje conversando com um parente próximo, eu prometí uma coisa. Falei que dedicarei minha vida a descobrir o mistério da morte. Thomas Edison deve ter tomado muito 'choque' antes de acender a primeira lampada e deve ter escutado muito idiota dizer que 'aquilo jamais acenderia'. Santos Dumont entao...sem comentários.


Eu conclamo a você que me lê a tomar comigo essa bandeira. Rasgar o véu. Mas rasgar sem culpa....rasgar sem dogmas.

Diariamente um familiar, um amigo, um conhecido.....alguém nos é 'raptado' pela morte, levado para algum lugar e não há 'pedido de resgate'.


Eu posso morrer sem saber para onde minha mãe foi. Mas eu vou morrer tentando descobrir.

E eu talvez influencie VOCÊ a tentar isso comigo.


PARA O LIXO com as religiões que nada mais nos oferecem que um 'cheque em branco' e que costumeiramente não tem fundos.


Entendam que eu não estou querendo a minha mãe de volta, visto que o corpo dela pereceu e, francamente, não mais a servia.

O que quero é o PARADEIRO.


Somos energia e energia não perece. Energia se transforma. Essa é uma lei universal e não fui eu quem a fiz.


No mais, fica apenas a falta, a saudade, o vazio e lamentavelmente o não conhecer. Mas esse último eu vou me dedicar a desrespeitar.

Não sou obrigar a viver na ignorância do fator 'morte' para o resto de minha vida. Nem eu nem você.


Não, nao estou enlouquecendo. Talvez a minha vida como Herege esteja apenas começando.

Que o advento do 'desaparecimento' de minha mãe se torne um marco em minha vida e que me faça descobrir o quanto de sublime e maravilhoso existe por trás dessa transição a qual chamamos morte.

Mãe, eu vou achar você. Esse post é dedicado à tua vida como mãe de 9 filhos e como pessoa que renunciou a sí mesma para dar inteligência e cultura àqueles que de dentro de tí vieram.

Me espera que eu vou te achar.


Em tempo: talvez esse seja meu último post. Apenas talvez.
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